CHICO BUARQUE
Ou, simplesmente, "Julinho da Adelaide", o outro?
Talento, cultura e, na contramão, mesmice, mediocridade, falta de valor. Eis a questão. A humanidade - desde os primórdios quando parecia que caminhava, pois agora, num enlouquecido retrocesso, tem-se a impressão que ela está "capengando" - vive nos dois lados do muro, sem a menor possibilidade de algum ser-humano, seja ele quem for, ficar em cima dele. Ou se está no lado do talento e cultura ou, infelizmente, da mediocridade, arrastando-se nos passos trôpegos da mesmice, do "viver por viver", no "deixa a vida me levar", no "maria vai com as outras". Trocando em miúdos, acordar, levantar, cumprir seu karma num ofício que não lhe tráz benefícios, muito menos satisfações (a não ser uns poucos caraminguás) e no outro dia recomeçar novamente. Dia após dia, semana após semana, ano após ano, sem nada de novo no "front". Estes são, como diz o apresentador Faustão, os "normais". Já os que escolhem estar no outro lado do muro (reconhecimento profissional e social, sucesso), decidem ousar, arriscar, apostar em novos horizontes, porque acreditam em si mesmo, no seu potencial e competência - independentemente das críticas e opiniões desestimulantes dos invejosos - sobressaindo-se no que fazem, tornando-se uma notoriedade, uma personalidade. Isto porque tem algo a dizer (os intelectuais), a mostrar (os efêmeros talentos (?) "bundantes") ou fazer (artistas, criadores e cientistas).
Este rosto sensual e enigmáticamente iluminado, sorridente, estampado na fotografia que ilustra o artigo de hoje poderia não ter o direito de estar aí SE tivesse seguido o caminho "normal" dos jovens na fase da escolha do seu futuro social, financeiro e político, SE preferisse continuar paquerando as colegas de turma da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, em São Paulo. Provávelmente teria casado (como o fez com a atriz Marieta Severo), teria filhos (como os teve), trabalharia na área e viveria uma vida insípida, igualzinha a milhões de brasileiros SE - e, graças à Deus, tem sempre o SE - a irmã, a cantora Miúcha, não tivesse lhe ensinado a tocar violão, SE o pai e a mãe, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda e dona Maria Amélia, não recebessem em casa artistas como o poeta Vinícius de Moraes, seu futuro parceiro em memoráveis criações poéticas-musicais. Seu nome hoje poderia não ser conhecido, sinônimo de um dos maiores compositores da MPB, brilhando tão intensamente quanto seus colegas Tom Jobim, Miltom Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, João Gilberto (que foi seu cunhado), etc. e tal.
Seu nome é Chico Buarque de Hollanda. Um mito. Uma lenda viva na história recente das artes tupiniquins. Ou, por acaso, não seria "Julinho da Adelaide"? Este pseudônimo foi criado por ele para driblar a censura e compôr três canções. Mas, não demorou muito, a mentira foi descoberta e ele desmascarado. Apartir de então começou a exigir-se carteira de identidade para o registro das obras. Um mito não se fáz somente com talento. Tem de ter um "tempero" todo especial, umas estorinhas plantadas (marketing) inteligentemente aqui e acolá para "atiçar" a curiosidade alheia, o "diz que diz" popular. Sem essas, digamos, mentirinhas, muitos hoje não seriam quem são. Quando um anônimo, "zé mané" cria, inventa, ele é mentiroso; mas quando é um "fulano de tal", renomado, ele é gênio... (?) ... Chico poderia - se fosse escolher pelo lado errado do muro, dos "normais", dos anônimos - ser apenas mais um "mentiroso", principalmente quando, ao se apaixonar por uma moça e querer conquistá-la, fingiu ter sido vitíma de um acidente automobilístico. Chegou, pasmem!, ao cúmulo de comprar gaze, esparadrapo e mercúrio cromo para dar credibilidade a sua encenação. E, desta vez, como teria dito Odorico Paraguassú se o tivesse conhecido, não houve "desmascaramento" e a jovem donzela caiu na sua estória teatralmente concebida.
Ele foi criado num excelente ambiente familiar onde a mediocridade e a vulgarida dos dias atuais (certas músicas, danças, palavrões e vestuário) não tinha espaço e o acesso as suas salas dava-se apenas a amigos de reconhecido valor artístico, cultural e intelectual. Pessoas que não tinham o que dizer, não tinham vez. Não foi à toa que Miúcha se casou com - o sempre introspectivo, inacessível e inatingível rei da bossa nova, mas competentíssimo - João Gilberto. Só que mesmo naquele clima onde se respirava arte do alpendre à cozinha, Chico parecia não estar nem aí, não tinha noção da oportunidade que o Todo-Poderoso lhe deu ao nascer num ambiente tão nobre. Nobre de intelectualidade, bom gosto e elegância. O guapo rapaz só queria saber de namorar, "azarar" as moçoilas encantadas com o brilho e magnetismo daquele olhar hipnotizador. A música para ele era apenas uma brincadeira exercida no porão do diretório acadêmico, no qual, juntamente com Toquinho, criava versões bem humoradas para canções famosas, de preferência achincalhando o presidente Castelo Branco ou fazendo gozação com o pessoal da jovem guarda. Somente em 1964, quando se apresentou no programa Primeira Audição, na TV Record, deu-se conta do valor que o destino colocou em suas mãos. (Antes tarde do que nunca!). No ano seguinte, lançou o disco "Pedro Pedreiro", uma canção com 60 versos (nossa!) na qual o personagem aguardava a chegada de um trem. (E que trem demorado pra chegar!). Em 1966, "A Banda" estourou no Festival da Canção, também na Record e, três anos depois, perseguido, Chico embarcou num avião para se exilar na França e Itália até março de 1970, quando, já de volta ao Brasil, tornou-se um dos compositores mais censurados pelo regime militar. "Apezar de Você", um samba, virou hino da oposição à ditadura. Mas nem tudo foi revolta e crítica no seu currículo. Houve momentos de extrema poesia e feminilidade, como em "Olhos nos Olhos" e "Folhetim". Músicas tão bem interpretadas por grandes vozes. (Isto não é uma história de vida, é uma sinopse de novela!).
O Brasil e, especialmente, a MPB não poderia perder um criador (e criatura excepcional que é), um artista de primeiríssima grandeza, para os escritórios de arquitetura. (Não que lá também não tenha "gênios", claro!). Hoje ele não teria o brilho dos holofotes, os quais só se acendem para quem tem o que dizer, neste caso específico, cantar, cantar e cantar. Para quem, bem ou mal, "mora" na boca (maldita ou bendita) do povo, o qual vive - e foi feito (senão não seria povo) - para falar da vida, das mentiras e verdades, daqueles que, realmente, tem valor, importância. Do contrário, não criticariam, inventariam, caluniariam.
Au-revoir para todos que me criticam ou aplaudem. Na próxima quinta-feira, se Deus quizer, aqui estarei. Eu aqui e vocês daí. C'est la vie!
SANFERR. 27.01.2011
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