"QUANDO SURGI, ME CHAMARAM DE JOÃO GILBERTO DE SAIAS", disse ela.
A cantora baiana que deu vida (musicalmente falando) à sensualidade de Gabriela - interpretada por Sônia Braga na televisão com o inesquecível Armando Bógus e no cinema com o galã internacional Marcelo Mastroianni, os Nacib de sua vida ficcional, criada pela genialidade do imortal Jorge Amado - também é uma das deusas que cantam (e encantam!) no Olimpo da música popular brasileira. Aos 65 anos, pode-se dizer que Gal Costa vivencia com sabedoria a plenitude da vida como uma "jovem senhora", linda de viver (e até de morrer-se por ela, se fosse o caso) como diz a apresentadora Hebe Camargo. De bem com a vida, está amando - o filho Gabriel, adotivo, uma benção que Deus lhe deu - e sendo igualmente amada (pelos fãs) em todo o Brasil e nos quatro cantos do mundo. Do alto de sua mais recente moradia (ela muda frequentemente de csa como uma nômade, cigana, certamente buscando vislumbrar novos horizontes e,agora, a baía de Todos os Santos está logo ali embaixo, banhando seus pés elegantemente manicurados), Gal está confortávelmente instalada num dos espaçosos e elegantes apartamentos do sofisticadíssimo edificio Morada dos Cardeias, no largo do Campo Grande na capital baiana, onde mora também outra celebridade "cantante" - e estonteante, admirada por todos os funcionários do condomínio - do universo musical, a irreverente Ivete Sangalo. Gal, literalmente falando, pode se dar ao luxo de olhar - do alto, e bota alto nisso - com tranquilidade para trás e ver que todo seu esforço, desde o difícil começo lá nos dourados (não tanto para muitos) anos 60, valeu a pena. Hoje é uma artista consagrada pela critícia e público - mesmo tendo recebido muitos comentários nada elogiosos, até mesmo depreciativos, por sua postura e aparência hippie - como uma das vozes mais respeitadas (e requisitadas pelos compositores) da MPB. Voz esta que não precisa ir além da primeira nota para que todos saibam quem está ao microfone.
Maria da Graça Costa Pena Burgos - ou, melhor dizendo, desde que mudou seu nome em 1990 - Gal Maria da Graça Pena Burgos Costa, a filha de Arnaldo Burgos (pai que não chegou a conhecer e morreu quando ela tinha 15 anos) com Máriah Costa Pena (também já falecida), foi acostumada desde quando ainda se encontrava no ventre da mãe a ouvir boa música (clássica), pois d. Mariah passava horas cantarolando para o ser que crescia dentro de si. Com um comportamento, digamos, profético assim, a filha não poderia ter seguido outro caminho senão o de ser cantora, tornar-se um "monstro" da música popular brasileira, "batizada" pelo refinamento e bom gosto ao ouvir casualmente em 1959 o mestre João Gilberto sussurrar melodiosamente "Chega de Saudade" no rádio. Diz o sábio ditado - um dos poucos, já que a maioria não fáz sentido algum - que "filho de peixe, peixinho é". Dona Máriah, infelizmente, não teve seus dotes musicais reconhecidos, mas vingou-se na carreira mais do que vitoriosa da filha. Abençoado àquele dia quando, sem nada para fazer, Gal prestou atenção naquela canção interpretada por um homem de voz estranha, suave, agradável de se ouvir, que saía do rádio posicionado com toda honraria (era o home-teather da época) num lugar de destaque na sala. Um instante mágico que ficou para sempre guardado (na boa) lembrança de Gal e, tempos depois, já trabalhando como balconista da famosa loja Roni Discos, ela voltaria a ter contato (auditivo) com a mesma voz e tantas outras, inclusive Dolores Duran - que muitos a acusaram injustamente de imitar - as quais serviram para aprimorar os dons de autodidata talentosa e competente, mesmo ela já tendo uma certa iniciação no mundo musical tocando instrumentos como o piano e violão.
Em 1963, Gal foi apresentada a Caetano e nasceu daí uma grande, proveitosa (e eterna) relação afetiva-musical entre os dois; uma parceria de bons amigos que sempre se entenderam e sabem o que um espera do outro com uma simples troca de olhares. Com esse "apadrinhamento", Gal teve acesso ao que de melhor se produzia na época em termos de Bossa Nova, MPB e (até) o samba. Conhecer Caetano Veloso através de suas amigas, as irmãs Sandra e Dedé (posteriormente esposas de Gilberto Gil e do próprio "Cae") foi um passo decisivo para incentivar Gal a traçar seu futuro como uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos. Versátil, boa de ouvido, Gal Costa não se limitou a um único gênero musical, sendo desde sempre influenciada por nomes como Jacques Biel, Tom Jobim, Baden Powell, The Beatles, Nina Simone, Elis Regina e o próprio João Gilberto. A soteroplitana nascida no bairro da Graça em 26 de setembro de 1945, estreou no espetáculo "Nós" em 22 de agosto de 1964 no templo das artes baianas, o Teatro Vila Velha, ao lado de Gil, Caetano, Maria Betânia e Tom Zé. Depois - como todos faziam naqueles idos - pegou a estrada e tomou o caminho da cidade maravilhosa em busca do reconhecimento nacional, participando "com muita honra e prazer" do disco de estréia da "mana" Betânia em 1965, um ano marcante para Gal já que foi no finalzinho dele que conheceu, finalmente, João Gilberto, seu deus, seu ídolo, sua referência musical.
Com uma carreira consagrada em gravadoras do porte da Odeon, Emi, Universal, RCA e Trama, Gal conquistou seu "lugar ao sol" lançando compactos. O primeiro foi "Eu vim da Bahia" (de Gil) e "Sim, foi Você" (de Caetano). Depois vieram vários long-plays (lps) e canções que ficarão para sempre na memória daqueles que sabem o que são "pérolas" da MPB, como: Domingo (1967), Tropicália (1968), Gal Costa (1969, primeiro disico solo com canções de Jorge Ben, Caetano, Roberto Carlos, etc.), Fa-Tal (1971, ao vivo, show dirigido por Wally Salomão), India (1973, teve a capa vetada pela censura), Cantar (1974), Gal Canta Caymmi (1976), Caras e Bocas (com a música It's all over now, baby blue), Água Viva (1978, que lhe rendeu o primeiro disco de ouro) e Gal Tropical (1979). Foi com esse trabalho, orientada por Guilherme Araújo, que Gal mudou seu estilo (tanto no repertório e, principalmente, no visual) transformando-se numa elegante e charmosa "estrela", adepta dos saltos Luís XV e roupas assinadas por renomados costuureiros. Uma mudança drástica que lhe rendeu bons frutos, pois logo a seguir vieram Aquarela do Brasil (1980, me arrepio até hoje quando ouço), Fantasia (1981), Minha Voz (1982), Baby Gal (1983, best of the best), Profana (1984, sem comentários para a "vaca das divinas tetas") e Bem Bom (1985). De lá pra cá, Gal Costa tem nos presenteado com obras (também) de excelente qualidade, mas - graças ao péssimo gosto musical que tomou de assalto os ouvidos do povão em termos de música nacional ou, então, as internacionais, que não entendem bulhufas - a nossa diva tem feito mais shows elitistas (para um público selecionado, de extremo bom gosto) e menos populares (para grandes platéias), apresentando-se com frequência no exterior. Infelizmente para nós e felizmente para as platéias da Europa, EUA e Japão que sabem apreciar o que é bom e não o baticum infernal de músicos (?) malucos que acham que fazem som e cantores (as) que pensam que cantam. Se bem que, tanto aqui como acolá, tem sempre a platéia dos menos afortunados (culturalmente falando) que dão ibope as presepadas (infelizmente) exportadas por um Brasil tão rico de bons artistas. Hoje em dia esses (os bons) não tem vez, a não ser que cantem canções (?) sem letra, sem nexo, sem tudo (ou melhor, tudo que não presta musicalmente falando) e mostrem seu talento "bundante" requebrando eróticamente, "a dois passos do paraíso" da imoralidade (e da total falta de comprometimento com o artístico, visando apenas o sucesso sem merecimento - e meteórico - e lucro financeiro). (Se é que me entendem!)...
Canções viraram clássicos, se eternizaram na voz inimitável de Gal "La" Costa, a exemplo de Coração Vagabundo (Caetano), Meu Nome é Gal (Roberto/Erasmo, considerada por muitos seu hino oficial), Bom Dia (Gil), Dadá Maria (Renato Teixeira), Baby (Caetano), Gabriela, a Mais Bela (Roberto/Erasmo), Divino e Maravilhoso (Caetano/Gil), Sua Estupidez (Roberto/Erasmo), Oração de Mãe Menininha (Dorival Caymmi, dueto com Betânia) e tantas outras. O sucesso, felizmente - entre mais acertos que tropeços (natural em qualquer carreira) - chegou para a filha de d. Mariah. A Bahia e o Brasil sentem orgulho dela - tão criticada, menosprezada e, até certo ponto, marginalizada no inicio - tanto que Gal tornou-se referência para a nova (?) geração de (boas) cantoras como Zizi Possi, Adriana Calcanhoto, Marisa Monte, Vanessa da Mata, Ana Carolina, a "baby" Maria Gadú e até mesmo a sempre indecifrável (e maravilhosa!) Angela Rorô. Gal Costa, além da excelente cantora que é, mostra-se também ser uma pessoa generosa, querendo ajudar quem precisa (ela sabe o que passou antes de ter seu valor reconhecido), simpática e atenciosa com todos (conhecidos ou não), sem modismos ou estrelismos (tão comuns em várias por aí que se acham, sem nunca terem sido), sem manias absurdamente ridículas de "estrela" decadente que só sabe exigir (no camarim) e não tem nada a oferecer (no palco)...
Gal Costa é uma personalidade internacionalmente conhecida, uma "marca". Não se vangloria de ter sido a única cantora brasileira a participar do Hall of Fame, no Carnegie Hall. È uma artista do grand-monde, apresentando-se com desenvoltura (e sendo aplaudida de pé) nos mais famosos palcos, como o fez em 2006 na casa de shows Blue Note, de Nova Iorque e logo a seguir no Japão, lançando o CD "Gal Costa live at The Blue Not".
Au-revoir para todos que me criticam ou aplaudem. Na próxima quinta-feira, se Deus quizer, aqui estarei. Eu aqui e vocês daí. C'est la vie!
SANFERR, 30.06.2011
a ESFINGE:
"Os interesseiros, aproveitadores, oportunistas e dissimulados pensam que estão enganando, traindo; mas não passam de idiotas, tolos e patéticos nas mãos de suas (possíveis) vítimas inocentes que, inteligentemente, fingem que estão sendo enganadas".
SANFERR. 10.05.2010
de SANFERRPRESS para todos os leitores e colaboradores (patrocínios, doações):
Na última quinta-feira (dia 23) no artigo sobre Gabriel Braga Nunes eu dizia que - por falta de leitura e o mínimo de conhecimento da língua portuguesa - o povo (nós) está falando mal, escrevendo pior ainda e as universidades despejando profissionais incapacitados no mercado de trabalho nas mais diversas áreas. Amigos, vocês não imaginam a quantidade de e-mails, SMS e até mesmo telefonemas que recebi criticando a minha opinião. Verdadeira, diga-se de passagem, tanto que na edição do Jornal Nacional da última segunda-feira (dia 27), William Bonner e Fátima Bernardes apresentaram a triste reportagem sobre os universitários (incompetentes) que não estão conseguindo estágio nas empresas por que não estão conseguindo (meu Deus, o que é isso?) escrever corretamente palavras corriqueiras, bobas. (Fiquei estarrecido diante da TV). Até mesmo estudantes de Comunicação, "aspirantes" à jornalistas...(?)...
A culpa é do ensino fundamental deficitário que temos em nosso país, infelizmente, pois tudo começa na base, do primeiro degrau. E depois do famigerado vestibular-loteria (dos X), o qual é bom para a correção das provas e excelente para quem não tem conhecimento algum, pois pode ter a sorte de riscar na letra (A,B.C.D ou E) certa e entrar na faculdade sem merecimento algum. O Ministério da Educação tem de tomar uma posição urgentemente, reformular o vestibular, já que esse tal de gabarito está se transformando em "BURRARITO". As provas tem de ser aplicadas com perguntas (como são) e as RESPOSTAS escritas com as próprias palavras dos vestibulandos, acabando de uma vez por todas com as OPÇÕES, o "UNIDUNITÊ", a SORTE. Quem sabe, sabe, vai lá e dá conta do recado, provando com o preto sobre o branco. fáz ao VIVO, como diz Faustão.
Sei que vou causar nova polêmica, mas defendo minhas opiniões até debaixo d'água, goste quem gostar e morro abraçando as mesmas. Sou contra o sistema de cotas nas universidades, pois lá é lugar de quem, realmente, sabe e não porque é branco, negro, pardo, moreno, azul, roxo, índio, periquito, papagaio... Temos, sim, de melhorar o ensino público no país e não sair distribuindo cotas para agradar a população, fazer figura e, futuramente, ser responsável por profissionais incompetentes no mercado. Aliás, as cotas - eu entendo assim - é uma forma de discriminação. Ou não? Uma pergunta se fáz necessária e não quer calar: existem cotas para pessoas que não sejam afrodescendentes, índios, pobres, etc?
Sou pardo, pobre, de origem humilde, do povo, mas nem assim me acho no direito de tomar o lugar de quem, realmente, sabe, está gabaritado para cursar a faculdade de Medicina, Direito, Engenharia, Administração, etc. Não é a minha área. (Se é quem me entendem!)...
O estudo e a leitura - sempre, sempre!, e eu digo com a experiência de autodidata - é a única maneira de se adquirir conhecimento, cultura e (quem sabe?) futuramente se tornar um intelectual. A massa encefálica de todo ser-humano é igual, não tem cor, etnia. (Ou tem?).
Trocando de assunto, parabéns aos autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Gostei de assistir esta semana os capítulos nos quais os personagens Léo (Gabriel Braga Nunes, homenageado da coluna semana passada) e Horácio Cortez (Hérson Capri) estão começando a serem punidos pelo seu mau-caratismo, desonestidade. A era do "vale tudo" já era mesmo.
SANFERR, 30.06.2011
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