COLIN FIRTH,
CONDECORADO PELA RAINHA, APLAUDIDO PELO POVO,
UM ATOR DIGNO DO BANQUETE DO OSCAR 2011.
Às vezes o cinema hollywoodiano nos surpreende e proporciona raríssimos (e preciosos) momentos de intelectualidade, cultura - fora do terrível (e, infelizmente, com bilheteria garantida) padrão violento e sanguinário - quando os roteiristas colocam os neurônios para funcionar (e trabalhar à favor do bom gosto) transformando verdadeiras obras-primas da literatura mundial, em filmes dignos, senão do Oscar, mas, no mínimo, de outras importantes premiações da sétima arte. Eu estava esperando acabar de ler "O Discurso do Rei" - com o sugestivo sub-título "Como um Homem Salvou a Monarquia Britânica", de Mark Logue e Peter Conradi, publicado aqui no Brasil com o respeitado selo da José Olympio Editora - para comparar o livro com o filme e escrever esse artigo (antes que as "bocas malditas" digam que o Oscar aconteceu bem lá atrás e somente agora estou falando no assunto). O livro é excelente e o filme fáz jus a história, literalmente falando. A narrativa literária é recheada de dados históricos, a qual serviu de base para um dos melhores roteiros já escritos, tanto que (também) foi premiado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, além de outras estatuetas (importantíssimas) para Melhor Direção e Melhor Ator para o britânico Colin Firth.
O título acima - Um Perfeccionista na Boca do Povo - traduz todo o trabalho (britânicamente preciso na concepção de um bom ator) e o resultado alcançado por esse intérprete de primeiríssima grandeza ao ponto de ser recentemente homenageado pela rainha Elisabeth II com o título de comandante da Ordem do Império Britânico. Uma justa homenagem, já que Colin se superou dando vida a um dos personagens mais emblemáticos da recente história da realeza inglesa: o rei George VI, pai da atual rainha. A estória relatada no livro com detalhes assombrosos (e até, de certa forma, picantes), interpretada na telona por grandes nomes do teatro é simplesmente emocionante: na década de 30 - por causa do escândalo que envolveu seu irmão mais velho, Edward VIII, o qual havia abdicado do trono para se casar com uma plebéia, a socialite americana (tão feiosa como elegante, culta) Wallis Simpson - o princípe Albert (depois George VI) foi coroado como rei da Inglaterra apesar de gago, introvertido e sem o menor carisma. Mas, ajudado por sua mulher, a rainha Elisabeth (mãe da atual, já falecida) e pelo fonoaudiólogo Lionel Longue, ele transformou-se no rei que levou a Inglaterra à modernidade, sendo aplaudido e respeitado por seus súditos. No filme, Colin Firth fáz o papel do monarca britânico, Geofrey Rush (Lionel) e Helena Bonham Carter (a Rainha Mãe).
Sempre gostei de frequentar o escurinho do cinema (no bom sentido, Rita Lee, chupando - ops! - drops de anis e tudo!) e últimamente, por conta desta coluna, tenho ido com mais frequência, principalmente nas pré-estréias e avant-premiéres. Sinto que - apesar do que dizem as tais "bocas malditas" (olhe elas aí de novo, meu povo!) - tanto o cinema nacional (temos bons exemplos recentes com Cilada.com e O Assalto ao Banco Central, ambos em exibição, sendo que o último é um excelente trabalho de estréia como cineasta do diretor de TV Marcos Paulo) como também o internacional, estão vivendo dias de glória. Bons filmes foram apresentados ao público nos últimos meses como "Bravura IndÔmita" (True Grit, Eua, de Ethan e Joel Coen) com Jeff Bridges, Matt Damon e Josh Bolin, "Abutres" (Carancho, uma co-produção da Argentina, Chile, França e Coréia do Sul, de Pablo Trapero) com Ricardo Tarin, "Comer, Rezar, Amar" (Eat Pray Love, de Ryan Murrphy) com Julia Roberts, Richard Jenkins e Javier Bardem, baseado - também li o livro - no romance de Elisabeth Gilbert, além de "Lixo Extraordinário" (documentário de João Jardim, vencedor dos prêmios Sundance e Berlim). Sem falar na imperdível comédia romântica "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos" (You Will a Talk Dark Strenger) de Woody Allen, com Antonio Banderas e Anthony Hopkins. Desde - nossa, quanto tempo! - "Bar Esperança, o Último que Fecha" (1983) e "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia" (não me recordo o ano), o primeiro de Hugo Carvana, com ele próprio, Marília Pêra e Silvia Bandeira no elenco, pouquissimos roteiros (adaptados ou originais) mereceram o aplauso - de pé! - dos cinéfilos. A maioria dos cineastas - talentos ou não, querendo imitar, mas sem conseguir, a genialidade do baiano Glauber Rocha - "pecam" pelo excesso de panorâmicas em locações fantásticas, belíssimas, esquecendo-se do essencial: a estória, os diálogos. (Se bem que, no caso da telona, a imagem conta bastante; mas nunca ter a pretensão de colocá-la acima das palavras, senão o filme torna-se seco, vazio, dando-nos a impressão que voltamos a pré-história cinematográfica).
"The King's Speech" ou, traduzindo, "O Discurso do Rei", magistralmente dirigido por Tom Hooper (um diretor de extremo bom gosto e perfeição artística, técnica) é um desses filmes que ficarão guardados na (boa) memória de quem sabe o que é cinema por séculos, milênios, justamentes por que o ator e o personagem principal completam-se, confundem-se, como se um não existisse sem o outro. Como se isto fosse possível numa estória não ficcional. (Se é que me entendem!). Outros exemplos - de atuações únicas, inigualáveis - o cinema já nos deu com Humprey Bogart (Casablanca), Vivien Leigh (...E o Vento Levou), Roger Moore (OO7), Anthony Hopkins (Canibal), Johnny Weissmuller (Tarzan), Elisabeth Taylor (Quem Tem Medo de Virginia Woolf?), Richard Harris (Abraão), Colin Feore (o excelente Julius Caesar de Império), Charlton Heston e Yul Brynner (Os Dez Mandamentos), Laura Soltis (Amizade Criminosa), Fernanda Montenegro (Central do Brasil), Marilia Pêra (Pixote), Sônia Braga (Gabriela e A Dama do Lotação) e Leonardo Villar (O Pagador de Promessas), além de outros.
Colin Andrew Firth, casado com Livia Giugglioli, não é apenas mais um ator britânico com formação clássica em dramas e comédias que ganhou notoriedade por causa do Oscar. Ele tem história, anos e anos de batalha, obstinação, "correndo atrás" de quem lhe desse uma oportunidade desde que iniciou em 1984. Uma carreira que inclui sucessos como Bridget Jone's Diary (O Diário de Bridget Jones), Bridget Jones: The Edge of Reason (Bridget Jones no Limite da Razão), The Importande of Being Ernest (A Importância de ser Ernesto), Nanny Mcphee (A Babá Encantada), dentre outros. É óbvio que a premiação com a estatueta mais poderosa da sétima arte lhe trouxe o tão merecido (e suado) reconhecimento e glória, mesmo ele já tendo sido indicado em 2010 pelo filme A Single Man com Julianne Moore. O súdito de Sua Majestade, a rainha Elisabeth II, certamente ainda dará mais orgulho aos ingleses, já que àquele país sabe dar valor, homenagear e endeusar quem ultrapassa suas fronteiras mostrando talento. O tempo - e os filmes que virão - mostrará que "sir" Laurence Olivier, com toda sua genialidade e técnica teatral, não foi o único a seduzir as câmeras.
Au-revoir para todos que me criticam e aplaudem. Na próxima quinta-feira, se Deus quizer, aqui estarei. Eu aqui e vocês daí. C'est la vie!
SANFERR, 28.07.2011
a ESFINGE:
"Todos os dias são do caçador. Só o último dia do caçador é o da caça".
STANISLAW PONTE PRETA (1923-1968) escritor e dramaturgo carioca.
CONTATOS:
e-mail: rsanferr@hotmail.com
rsanferr@globomail.com
fone: (71) 8265.9332
home-page: HTTP://SANFERRPRESS.BLOGSPOT.COM
novo blog: HTTP://SANFERRARTSCRIPT.BLOGSPOT.COM
DOAÇÃO PARA O BLOG
BANCO: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (CEF)
AGÊNCIA: 1416 - Relógio de São Pedro (Salvador - Bahia)
CONTA POUPANÇA: 01300099159-3
P A T R O C Í N I O