CÁSSIA KISS MAGRO,
A AULA-SHOW DE INTERPRETAÇÃO DE UMA PROFESSORA
NA VIDA E NO PALCO.
Assistir televisão no canal aberto, uma das raras - junto com a praia, o passeio público e a "pipoca" no carnaval - diversões do pobre e assalariado, já se tornou um hábito cultural de nosso povo e, mais ainda, um prazer quando as emissoras nos presenteia com uma programação de qualidade, a qual, além de entreter, nos informa e fáz pensar. Com produções bem escritas e produzidas direcionadas a uma classe que não tem acesso fácil - ou, por comodismo, falta de interesse, não quer ir - aos bons espetáculos teatrais, óperas, ballet, concertos e museus, a televisão brasileira é considerada (e premiada!) uma das melhores do mundo. Geralmente, para atrair patrocinadores e público, tais produções escalam um elenco "estelar", grandioso; e grandioso não apenas em excesso de personagens, mas, sim, no nível, na categoria de astros e estrelas consagrados, os quais tem talento, competência e experiência de sobra para transformar pequenos e (aparentemente) insignificantes papéis em atuações inigualáveis, magistrais. Sem dúvida alguma, o Brasil é um verdadeiro celeiro de bons atores. Intérpretes com tarimba suficiente para dar vida, fazer crescer àquele personagem que desde a sinopse tinha tudo para ser apenas mais um inexpressivo coadjuvante do coadjuvante. Personagens irrelevantes que à princípio, na estréia, o telespectador - cada vez mais curioso e antenado com o meio artístico - pergunta-se ao se deparar com um grande ator ou atriz desempenhando tal papel: "mas por que esse(a) artista tá fazendo isso?" Foi justamente o que aconteceu há pouco tempo na novela "Morde e Assopra", da TV Globo, com o personagem Dulce interpretado (e defendido com garra) competentemente pela genial atriz Cássia, antes somente Kiss e agora, de uns tempos para cá, Magro. Só no sobrenome, já que, diga-se de passagem, o show de representação (ou viver o papel, como queiram) que ela deu em cada capítulo transformou Dulce em "galinha gorda e dos ovos de ouro" numa trama com enredo simples e de certa forma previsível no desenrolar das estórias paralelas. A maioria dos personagens do folhetim global que chegou ao the end na semana passada, um tanto quanto caricatos, burlescos, foram representados por atores escolhidos à dedo, dirigidos com maestria e perfeição, seguindo a tradicional receita da boa e velha comédia de costumes. Mesmo distante de ser uma (quase) reencarnação de cueca da inimitável Janete Clair, Walcyr Carrasco mais uma vez deu conta do recado e soube criar situações no tom e ritmo exato do dramalhão (bem diferente do mexicano, graças à Deus!) em meio a tantos conflitos (?) e cenas nas quais a gargalhada do telespectador sempre era a reação mais provável.
Cássia Kiss Magro, decididamente, foi o grande diferencial num elenco gabaritado e "Dulce" o divisor de águas na sua vitoriosa carreira, fazendo-nos sepultar definitivamente qualquer recordação (in memorian) de Lulu ou Adma. "Marcas" como Elisabete Savalla, Walderez de Barros, Ary Fontoura, Adriana Esteves, Marcos Pasquim, Mateus Solano, Flávia Alessandra, Paulo Goulart, Cissa Guimarães, Marina Ruy Barbosa, Carla Marins, Nívea Stelmann, Luís Mello, Paulo José, Emiliano Queiróz, Narjara Turetta, Vanessa Giácomo, André Gonçalves, Jandira Martini, Carol Castro, Suzy Rêgo, Paulo Vilhena e tantos outros deram conta do recado, mas nenhum desses mestres da arte de representar foi páreo para Cássia. Madura, segura de si e com total domínio cênico, Cássia roubava naturalmente, sem grande esforço, o brilho da performance de quem estivesse contracenando com ela e soube conduzir com uma realidade impressionante os momentos de angústia, decepção e dor de sua Dulce. O tom de voz, a postura e o olhar tornaram-se aliados de Cássia para compôr um dos melhores personagens já vistos na teledramaturgia brasileira nos últimos tempos, competindo de igual para igual com outros que marcaram época, a exemplo de Odete Roitmann (Beatriz Segall, Vale Tudo), Idalina (Natália Thimberg, Força de Um Desejo), Nazaret (Renata Sorrah, Senhora do Destino), Odorico Paraguassu (Paulo Gracindo, O Bem Amado), viúva Porcina (Regina Duarte, Roque Santeiro), Clô Hayalla (Tereza Raquel, O Astro), Maria de Fátima (Glória Pires, Vale Tudo), Leôncio (Rubens de Falco, Escrava Isaura), Salviano Lisboa (Lima Duarte, Pecado Capital), Perpétua (Joana Foom, Tieta do Agreste), Júlia Mattos (Sônia Braga, Dancing Days), Carmem (Lucélia Santos, Carmem), Juma Marruá (Cristiana Oliveira, Pantanal), Timóteo (Bruno Gagliasso, Cordel Encantado), Ana Raio (Ingra Liberato, Ana Raio e Zé Trovão), Lampião (Nélson Xavier, Lampião e Maria Bonita), Léo (Gabriel Braga Nunes, Insensato Coração), Isaura (Lucélia Santos, Escrava Isaura) e por aí vai a lista, uma pequena amostra grátis, desta mágica e deliciosa mistura de ficção (grandes personagens) com o mundo real (grandes atores). Cássia Kiss Magro, ao dar voz, corpo e sentimentos a Dulce, abriu caminho para sua (será?) irmã-gêmea Griselda (Lília Cabral, Fina Estampa), só que esta tem o "couro" mais duro - e é dura! - não se deixando abater, sofrer, com as maldades do ser humano. Cássia, numa composição e interpretação digna do Oscar, fez escola e mostrou o que é interpretar, "viver o personagem", para um grupo (nada seleto) de "atores carreiristas" que só querem aparecer na mídia, ganhar dinheiro, esquecendo-se de uma regra fundamental nesta e em qualquer outra profissão: talento não é para quem quer, mas para quem tem.
E pensar que nada foi fácil na trajetória de vida, no início de carreira desta grande e imprescindível mulher e atriz. Ao contrário de umas e outras por aí (as carreiristas), verdadeiras beldades que se acham o que não são, nunca foram e jamais serão. (Vão ser "normais", bater ponto num trabalho comum, sem o glamour dos holofotes, mas digno!). Confiam demais no corpo escultural, no rostinho gracioso e esquecem do preparo artístico, intelecto-cultural para se tornarem (boas) atrizes.( A era do curso Jayme Barcellos já era mesmo e nem toda hora surge uma Glória Pires). Cássia nasceu em Uberaba em 06.01.1958, descendente de húngaros e foi casada duas vezes. A primeira com João Alberto Fonseca com quem teve dois filhos: Joaquim e Maria Cândida. Depois se uniu a Sérgio Brandão e desta união teve mais dois herdeiros, Pedro Gabriel e Pedro Miguel. Atualmente - daí o novo sobrenome - está casada com o psiquiatra João Baptista "Magro" Filho, seu parceiro e amigo leal, o qual a ajuda no tratamento da bulimia e transtorno bipolar. Desde que chegou ao Rio aos 16 anos, Cássia passou pelas piores provações que a vida pode impôr a uma pessoa. Vendeu sandwiches na praia e quando as vacas estavam magérrimas trabalhou na cozinha de um restaurante (pasmem!) em troca de comida e dinheiro para o transporte. (Como a vida dá voltas, hein!). Mas, como diz o vox populi, "nada como um dia após o outro" - e o talento no meio para ajudar! - e logo Cássia recebeu convite da TV Bandeirantes para atuar na novela "Cara a Cara". O ano era 1979, início de uma nova era para esta guerreira obstinada que sabia aonda queria chegar quando deixou a Faculdade de Matemática para se dedicar a arte. Dois anos depois ela se mudou com "a cara, coragem e muito talento" na bagagem para a cidade maravilhosa, sendo recebida de braços abertos pelo Cristo Redentor. Destino: TV Globo, 1983, estreando num Caso Especial, o qual serviu de trampolim para a minissérie "Padre Cícero". Wolf Maya, expert em descobrir novos talentos, não iria desperdiçar um assim e logo Cássia "bateu ponto" na novela "Livre para Voar". Depois das portas devidamente escancaradas para a nova revelação (quem tem mesmo talento logo é descoberto, reconhecido) e a "bacia do sucesso" entornou de tão cheia: Roque Santeiro, Brega e Chique, Vale Tudo, Barriga de Aluguel, Pantanal, Fera Ferida, Por Amor, Pecado Capital (remake), Porto dos Milagres, Esplendor, Sabor da Paixão, Escrito nas Estrelas, Morde e Assopra, sem contar os inúmeros Especiais e seriados. No cinema, seu talento iluminou ainda mais o escurinho das salas em filmes como Memórias do Cárcere, Ele o Boto, O País dos Tenentes, etc.
"Quem tem mesmo talento logo é descoberto, reconhecido"... Ao contrário dos falsos talentos, arranjados e fabricados, os quais não se perpetuam, explodem (com direito a fogos de artifícios) apenas na ilusão dos quinze minutos de uma fama tão falsa como as congratulações dos invejosos, ruindo como castelo de cartas logo depois, mergulhando para sempre no mar do ostracismo. Assim como centenas de outras mulheres, Cássia Kiss Magro é, realmente, imprescindível, necessária na profissão que escolheu para brilhar. E encantar.
Au-revoir para todos que me criticam ou aplaudem. Na próxima quinta-feira, se Deus quizer, aqui estarei. Eu aqui e vocês daí. C'est la vie!
SANFERR, 27.10.2011
a ESFINGE:
"Fala-se em Deus com tanta facilidade, mas na hora de fazer o que Êle nos pede, coloca-se tanta dificuldade".
SANFERR, 26.08.2010
de SANFERRPRESS para todos os leitores e colaboradores (patrocínios e doações):
Muito obrigado a todos! Se eu já sabia, tenho provas documentais da repercussão que esta coluna está tendo dentro e fora do Brasil, para quem duvidar que um blog com apenas 01 (hum) ano de existência já conseguiu credibilidade em todas as esferas da sociedade. O segredo - além de botar os neurônios para funcionar, correr atrás de entrevistas, pesquisar, dar o melhor de si - é a simplicidade da home-page, sem nenhum exagero no design, na diagramação, mas, graças à Deus, bastante conteúdo cultural, informativo, estilo próprio e conhecimento da vida das personalidades aqui retratadas. Depois do artigo da semana passada - sobre a ex-Secretária de Estado (EUA) Madeleine Albright - fiquei ainda mais satisfeito, recompensado e feliz ao saber que meu trabalho como colunista independente (aqui na internet) está acontecendo do jeito que eu previ que aconteceria. A caixa de entrada do meu email público (e até mesmo o privado, apenas para os amigos íntimos) ficou cheia de tantas mensagens à favor e contra o artigo. Bom, excelente! Meu objetivo, graças à Deus, está aos poucos sendo alcançado: chamar a atenção, mostrar o que um colunista autodidata é capaz de fazer. Isto prova que, além de homenagear uma grande e "imprescindível" mulher (Madeleine), levando informações sobre sua trajetória pessoal e profissional para quem não sabia, também causei polêmica. As opiniões se dividiram. Quem é esclarecido - gosta do hábito da leitura e aprofunda-se nele, nem que saiba devorando as incompreensíveis palavras de uma "bula" de remédio (se é que me entendem!) - entendeu o texto e soube logo de cara que eu estava apenas elogiando as mulheres que não nasceram, vieram ao mundo apenas "à passeio", esperar marido, casar e ter filhos. Querem muito mais que isso. Talentosas e competentes, fizeram (ou ainda fazem) algo de aproveitável nas suas vidas, criando seus projetos relevantes, deixando suas marcas para a posteridade. Deram ou continuam dando orgulho para seus companheiros, os amigos e a família. Já quem não entendeu - ou simplesmente gosta de criticar sem conhecimento de causa, sem capacidade para ler nas entrelinhas e julgar adequadamente, sábiamente - levou "a carapuça" (palavrinha chula, deselegante!) e se enquadrou no bloco daquelas que não estudam, não lêem, não se informam e, consequentemente, não crescem na vida fazendo a própria estória de sucesso e reconhecimento, seja em que área for.
Sem a mulher não existiríamos, óbviamente. Mas - pensem, botem os neurônios para funcionar, minha amigas - existiu Eva e Maria Santíssima. Uma destruiu, derrotou, humilhou, envergonhou o homem. A outra, sábia e inteligente com os dons que lhe foram dados pelo Espirito Santo (assim como todos os talentos), honrou, dignificou e deixou seu nome para a eternidade, com um trabalho (esposa, mãe e criatura) glorificado na terra e no céu.
Qual destas duas mulheres, minha amiga, você quer se tornar?
Trocando de assunto, desejo muitas M... para a belíssima, talentosíssima, alegre e queridissima Claúdia Raia, que estréia o espetáculo "Cabaret" em São Paulo.
Claúdia foi a homenageada da coluna no último dia 11 de agosto. Sucesso!
E, por outro lado, meus pêsames à família Telles Velloso pela perda de Eunice (Nicinha).
SANFERR, 27.10.2011
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