quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O CARA QUE FEZ A CARA DA GLOBO.


BONI.
OUSADO, PERSEVERANTE E VISIONÁRIO, ELE REINVENTOU A TV BRASILEIRA.


     Roberto Marinho - não como o poderoso e já conceituado empresário dono de um dos jornais mais influentes do país (O Globo), mas o fundador de uma das quatro maiores redes de televisão do mundo - não teria conseguido sequer ter tido o direito de sonhar, muito menos ousar e chegar aonde chegou transformando a TV Globo no que é hoje, sem a ajuda de três importantes e distintos cavalheiros, os quais poderiam ser chamados como "os três mosquiteiros": Walter Clark, o americano Joe Wallach e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, carinhosamente apelidado pelos íntimos como Boni. Certamente, já que o Brasil é uma nação de memória curta e que (infeliz e equivocadamente) acha que o passado não teria importância, já foi e "já era" - sem passado não estaríamos aqui - muitos desinformados, culturalmente falando, irão se perguntar: quem é esse cara? Esse cara é O CARA, um homem inteligente e talentoso, obstinado, perseverante, criador (entre centenas de outros) do famoso jingle "Varig, Varig, Varig", além de várias outras idéias geniais. Idéias estas que, juntamente com Walter Clark, deu formato, conteúdo e estilo a grade de programação da TV Globo logo no início das primeiras transmissões. Tempos inovadores - e obscuros para a televisão - particularmente difíceis, quando a maior empresa de comunicação do país estava como um avião na cabeceira da pista com a ameaça de não ter a decolagem autorizada por problemas financeiros. Foi aí, então, que surgiu em cena - privada, para poucos expectadores e não sob à luz dos refletores para o grande público - a figura relevante de mr. Wallach, ou, simpllesmente, Joe. Aquele outro dos três mosquiteiros, responsável pela parte mais importante em qualquer empreendimento: as finanças.
     Acabei de ler ainda ontem o excelente livro "Meu Capítulo na TV Globo" (Topbooks Editora), de sua autoria, e descobri (boquiaberto) entre tantas outras informações importantíssimas que também um homem de insights formidáveis como Roberto Marinho teve seus momentos de dificuldades no início do processo de implantação da TV Globo. Era o cacique Marinho no comando da aldeia global, Walter Clark e Boni batendo tambores para chover idéias tipo "rosebud" nas suas criativas cabeças e o milagreiro Joe Wallach "cortando um dobrado" para controlar o dinheiro, para que a empresa recém inaugurada não mergulhasse no caos, num mar de dívidas e credores batendo à sua porta. Em certos trechos do livro histórico para o meio televisivo tupiniquim, o autor (Joe) conta-nos que além de Moreira Salles e José Luiz Magalhães Lins, até o famoso empresário-apresentador Sílvio Santos emprestou dinheiro ao grupo com juros de 8% ao mês. Mesmo Roberto Marinho nunca ter ficado à par desta pequena ajuda... (?) ... E pensar que tudo começou - a pedra fundamental da TV Globo - com o dinheiro injetado na empresa pelo grupo americano Time-Life em 1965. Quatro anos depois os americanos mandaram cobrar de Roberto os retornos dos investimentos de U$ 5 milhões.
     Todas estas estórias estão no livro de Joe Wallach e fazem parte da história da TV Globo. Até mesmo nomes famosos da cultura são citados como, por exemplo, Otto Lara Resende (1922-1992) "que escrevia os discursos e cartas para dr. Roberto e fazia estritamente o que o patrão queria"; Nélson Rodrigues (1912-1980) dava a impressão "de ser o office-boy no jornal" (O Globo) e dizia-se nos corredores que Roberto Marinho o usava para trabalhos menos importantes, além, claro, de Joe citar Boni. Com um carinho todo especial, Wallach retrata no livro o ex-superintendente geral da emissora assim: "o brilhantismo de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho é difícil de ser descrito por completo. Sua mente capta tudo que se passa ao seu redor e sua memória é excepcional"... Ah! O que seria da história sem as estórias dos bastidores onde fica-se sabendo tudo de todos. Mentiras e verdades publicadas em letras garrafais com a credibilidade da verdade ou então ditas à boca pequena em tom de fuxico nos círculos sociais, onde a mentira é tão maledicente quanto prazerosa. Para quem ouve, of course!.
     José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, nome grande e pomposo para um homem também grande em caráter - segundo quem o conhece de perto - e idéias. Pesquisando sua vida descobri que Boni nasceu em 30 de novembro de 1935, em Osasco (SP), filho de Joaquina e Orlando de Oliveira, herdou o sobrenome do tio (?) e que depois de ter brincado quando criança de cineminha em casa com luz de velas e figuras recortadas no lençol, chegou aos 15 anos - acreditem se quizer! - para Dias Gomes, então diretor da Rádio Clube do Brasil, e disse com a ousadia e determinação que lhe marcaria por toda a vida que queria trabalhar; mas não um trabalho qualquer e sim como diretor da rádio...(?)... Certamente - o tempo, senhor absoluto da razão, confirmaria anos depois - ele estava tendo uma premonição, pois tornou-se responsável pela TV Globo entre 1967 e 1996, na qual Dias Gomes foi um de seus funcionários. (As voltas que a vida dá!). Isto depois de ter ouvido muitos "não", ter portas fechadas, ninguém querer lhe dar a primeira chance e, consequentemente, dificuldade para ser valorizado. (Coisas do início da carreira de qualquer um). Mas Boni não desistiu, perseverou no seu sonho e conseguiu chegar até a Rádio Nacional (SP) como redator. Tempos depois foi a vez da TV Tupi, onde viveu seus dias de ator (?) na época do AO VIVO. (Pena que a carreira dele "morreu" antes dos aplausos). Logo a seguir Boni transferiu-se para a TV Paulista e se tornou, finalmente, "um grande", apesar do salário ser pequeno: apenas pneus e passagens de ônibus. Como não tinha carro, ele vendia os pneus. Diz o velho e sábio ditado popular que "quem é bom já nasce feito" e - outro muito melhor ainda - "nada como um dia após o outro", depois de muitos percalços, mas sem jamais deixar de sonhar e esforçar-se ao máximo para ser notado, reconhecido, Boni chamou a atenção do cacique da aldeia global e sua vida mudou quando a fama e ele foram definitivamente apresentados um ao outro. Junto com Walter Clark criou o padrão Globo de qualidade entre uma dose e outra de whisque (coisa de gênio chique!) nascendo assim o Jornal Nacional, Fantástico, além do famoso plim-plim, mundialmente reconhecido por quem não tem problema de audição.
     Esmiuçar, ou melhor dizendo, "garimpar" na trajetória de vida de Boni é um deleite, literalmente falando, já que o distinto último cavalheiro mosquiteiro do trio é um cozinheiro de mão cheia, apreciador da refinada cozinha francesa e vinhos de excelente safra. Hoje, afastado da direção da TV Globo desde 1997, quando foi substituído por Marluce Dias da Silva - a qual tive a honra de conhecer na sede da TV Globo na Lopes Quintas em junho de 2000 - Boni é sócio de seus quatro filhos na TV Vanguarda, afiliada da Globo no interior de São Paulo. Um deles, Boninho, continua na TV Globo como diretor de núcleo e é casado com a belíssima Ana Furtado, que apresenta o Vídeo Show com o fofíssimo André Marques. Se fosse retratar todos os feitos memoráveis da vida deste brasileiro que soube lutar bravamente para atingir seus objetivos, duas ou três semanas consecutivas falando sobre ele aqui na coluna não seriam suficientes.
     Boni não é passado, sinônimo do "já era", pois homens de grandes realizações não passam; ficam imortalizados nas suas obras, tornando-se exemplo e espelho para quem desejar provar que sonhar não é vergonha e sim motivo de orgulho. Vergonha é taxar o outro (o gênio) de visionário, dom Quixote, maluco e ficar de braços cruzados vendo a vida e a banda passar. Sem tocar. E Boni "tocou" a TV Globo para o lugar de destaque que ela tem hoje com talento, competência, sem dar ouvidos a quem torcia para que ele "desse com os burros n'água". Sem Boni as novelas, minisséries, Especiais, humorísticos e o jornalismo global não teria o formato de hoje e muitos menos crediblidade. Ele foi o precursor e muitos que vieram depois, mesmo em outras emissoras, pegaram carona no "seu jeito Boni de ser", audacioso e observador, para tentar fazer algo parecido, mesmo muitas vezes (esses sim) "dando com os burros n'água". Boni, além de ser o "pai" (me perdoe Assis Chateaubriand) da moderna televisão brasileira é responsável pelo que ela tem de melhor: qualidade. Amado ou odiado, respeitado ou temido, com amigos verdadeiros e falsos, Boni escreveu um dos mais importantes capítulos na história da comunicação deste país. Querendo ou não, somos obrigados a tirar o chapéu para seu talento e competência. Boni foi um dos "cabeças", fez "a cara" e "maquiou" a TV Globo.
     Au-revoir para todos que me criticam ou aplaudem. Na próxima quinta-feira, se Deus quizer, aqui estarei. Eu aqui e vocês daí. C'est la vie!

                                                                                                                                                                                   SANFERR, 24.11.2011

a ESFINGE:
     "O autodidatismo é a formação natural dos diplomados na universidade do talento e da competência".

                                                                                                                                                                                   SANFERR, 28.6.1999

     O pensamento de hoje foi dedicado ao aniversariante do próximo dia 30.

                                                                                                                                                                                    SANFERR, 24.11.2011

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2 comentários:

  1. A nossa história é importante, gente. Quer queiram ou não, somos hj fruto do que plantamos ontem, dos nossos "museus". Sem passado não teríamos presente e muito menos futuro. Talvez, por essa desinformação, essa ignorância cultural, os nossos jovens estejam tão emburrecidos, infelizmente, na maioria das vezes, voltados para a mediocridade, a dança e a música que serão lembradas pelas gerações futuras como a nossa vergonha. Um abraço à todos. Toninho, SP.

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  2. O Brasil, infelizmente, é um país sem memória. É um fato e não tem o que discutir. Se não fosse assim, todos saberiam da importância de Boni para a televisão, uma das melhores do mundo. Ele e Walter Clark transformaram a telinha global neste monstro que é hj em dia. Muito da nossa cultura comtemporânea se deve a qualidade, ao conteúdo e o poder que a TV GLOBO tem na sociedade, abrangendo todas as classes sociais. SANFERR está mais do que certo em homenagear personalidades que não são conhecidas do grande público, mas foram e são importantes. Sempre. LYA, Rio de Janeiro.

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