quinta-feira, 14 de julho de 2011

O ASTRO OU O SEMI DEUS DA TELEVISÃO?


                                                   DANIEL FILHO,
                       AMADO POR UNS, ODIADO POR OUTROS, INVEJADO,
                                   EIS UM TALENTO INCONTESTÁVEL!


     O Brasil parou em 1977. Não por causa de um (futuro) presidente, Tancredo Neves, que haveria de morrer misteriosamente antes de tomar posse (e o povo pranteava mais ainda do que a perda física, a esperança de ver o sonho de liberdade e democracia plena, irrestrita, adiado mais uma vez) ou muito menos por um retirante nordestino (Lula) e uma mulher que foi presa, sofreu no cárcere durante quase quatro anos as atrocidades da ditadura militar (Dilma) que assumiriam o comando da nação anos depois. Mas, por conta de uma outra mulher e outro homem, os quais - mesmo numa área tão diferente da politicagem que se fazia (e será que ainda não se fáz) naqueles idos atormentados pela referida ditadura - uniram seus talentos para virar o país de "cabeça pra baixo", causar um rebuliço geral em todos os setores da sociedade, em todas as famílias, de norte a sul, do Oiapoque ao Chuí, com uma estória envolvente, apaixonante, de amor e ódio, ciúme e traição. Seus nomes? Janete Clair e Daniel Filho, a "usineira de sonhos" como foi batizada pelo mestre Carlos Drummond de Andrade e o "mago das oito", responsáveis como criadora e diretor de "O Astro", a telenovela que mexeu com os hábitos noturnos dos brasileiros, alcançou altos índices de audiência no Ibope e foi um estrondoso sucesso (até) de crítica, sempre tão reticente e preconceituosa com esse tipo de cultura popular do nosso país. De socialites ao povão, dos empresários aos trabalhadores e (novamente até) os intelectuais, ricos e pobres, famosos ou anônimos, sem distinção de classes, credos e (pasmem!) religião, todo o Brasil aguardava com ansiedade Cid Moreira e Sérgio Chapellin darem o "boa noite" (depois de apresentarem, com toda elegância e fleuma britânica, as trágicas notícias do dia no Brasil e no mundo) para assistir e emocionar-se com o romance do mago trambiqueiro Herculano Quintanilha (Francisco Cuoco) e a romântica Amanda Assunção (a saudosa Dina Sfat). Até a cantora Maria Betânia exigia em seus shows uma televisão no camarim para não perder o capítulo da novela, pois, além dela, outras pérolas, diamantes e esmeraldas da MPB (bons tempos àqueles que nossos ouvidos não eram prostituídos por músicas decadentes) como Bete Carvalho, Vanusa, Clara Nunes, Emílio Santiago, Rita Lee, Djavan, Francis Hime, Elza Soares e outros, faziam parte da trilha sonora. Cuoco e Dina Sfat lideravam um elenco estelar formado por nomes de peso da teledramaturgia como Toni Ramos, Elisabete Savalla, Eloísa Mafalda, Heloísa Helena, Hélio Ary, Flávio Migliaccio, Ida Gomes, Isaac Bardavid, Cleyde Blota, Telma Elita, Sílvia Salgado (estreando) e tantos outros, os quais, em grandes ou pequenos (?) papéis transformaram o texto de Janete num sucesso retumbante, inesquecível. Um elenco que deveria servir hoje em dia como exemplo e escola para muitos rostos e corpinhos bonitos, verdadeiros talentos "bundantes" e de uma nota (ops!), quer dizer, um papel só. (Se é que me entendem!)...
     Com essa nova versão que estreou anteontem (terça, dia 12) comparações surgirão - e talvez, mesmo inconscientemente, eu esteja fazendo algumas - mas serão inevitáveis. Por exemplo: gosto e admiro o trabalho de Thiago Fragoso, mas, infelizmente, nestes dois capítulos iniciais, nas cenas que ele deveria ter explodido em interpretação com a emoção do personagem Márcio Hayalla, ficou à desejar. O fato é que perguntas se fazem necessárias depois de 34 anos da exibição da novela original. (A nova geração, óbviamente, não saberá o que foi, o que significou O Astro da década de 70).  Será que a estória não sofrerá cortes abruptos, já que a novela foi compactada de 185 para 60 capítulos? Mauro Mendonça Filho, à frente da direção geral e diante do próprio Daniel Filho não sucumbirá a tentação de pedir orientação, conselhos ao mestre? (O que seria até normal - e prudente - diga-se de passagem!). E, finalmente, o elenco atual - não menos talentoso, competente - fará jus a responsabilidade de "ressuscitar" personagens como Herculano, Amanda, Márcio, Salomão, Clô, Samir e Youssef Hayalla, tia Magda, Felipe, Neco, Beatriz, Mello Assunção, Joze, etc. e tal? Não duvidando, naturalmente, da capacidade de fenômenos da interpretação como o próprio Daniel Filho, Regina Duarte, Rosamaria Murtinho e todos os demais. Só que, por exemplo - mesmo sendo a rainha das atrizes de televisão brasileiras - Regina Duarte não fará uma Clô Hayalla como Teresa Rachel. Da mesma forma que nenhuma outra atriz faria a rainha Valentine (da novela Que Rei Sou Eu?) como (também) Teresa o fez na trama assinada na década de 80 por Cassiano Gabus Mendes. Cada ator tem seu estilo próprio (e imprime isso ao personagem), seu tempo de interpretação e, quando o personagem já foi apresentado ao público, fica (quase) impossível separar o primeiro do segundo. Como, por outro lado, a viúva Porcina e Sinhôzinho Malta (Regina Duarte/Lima Duarte, em Roque Santeiro), Odete Roitmann e Maria de Fátima (Beatriz Segall/Glória Pires, em Vale Tudo) são atuações únicas, inigualáveis. Daqui há alguns anos, se fizerem o remake de Insensato Coração, ninguém chegará aos pés do nível de interpretação de Gabriel Braga Nunes como Leonardo. O olhar, os gestos, a entonação... Um grande ator! Com relação a O Astro, o telespectador (inteligente, observador) vai notar as diferenças e, mesmo sendo uma recriação dos excelentes roteiristas Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, vai ficar sempre um gostinho de "será que?..." Não tem como não ser assim. Esse é o "pecado capital" (sem trocadilhos) dos remakes. (Não seria mais prático - financeira e artísticamente falando - reapresentar as versões originais das novelas?)...
     "Toma que o filho é teu, Daniel" ou, melhor dizendo, o Cecil B. de Mille tupiniquim, nascido em 30.09.1937 no Rio de Janeiro como João Carlos Daniel, filho do ator catalão Joan Daniel Ferrer e da atriz argentina Maria Irma Lopez (Mary Daniel). Por ser uma família circense, Daniel Filho não teve uma vida comum, fácil e, desde cedo, mostrou ser diferente, ter um talento, digamos, ousado (e abusado!) em comparação aos garotos de sua idade. Aos 12 anos (pasmem!) teve um filho com a empregada da casa de seus pais, o qual recebeu o nome de João Carlos Macedo e foi criado longe dele. Somente cinquenta e seis anos depois foi reconhecido por Daniel num exame de DNA, quando os dois ficaram frente à frente e pouco (ou nada) tinham a dizer um ao outro. Não devemos julgar jamais os atos - e mistérios - insondáveis da vida de quem quer que seja, pois na maioria das vezes tiramos conclusões precipitadas pelas aparências, o diz que diz popular e não somos justos. Daniel Filho, segundo quem o conhece na intimidades - como as ex-mulheres Dorinha Duval, Bete Faria e Márcia Couto - além de Olivia Byington, com quem se casou em 2008 e os filhos Carla Daniel (atriz) e João, é um homem de conduta irreprovável, amante à moda antiga (de mandar flores, bombons, abrir a porta do carro), pai e avô carinhoso, "coruja". Ator, diretor, produtor de cinema e televisão, Daniel vai deixar seu legado como cidadão e sua herança de talento artístico para os netos Lys, Antonio, Valentina e João Paulo. Homem de personalidade forte, diz o que pensa sem a preocupação (ou intenção) de parecer agradável, simpático e, sendo assim, tornou-se admirado como pessoa, respeitado como profissional e, principalmente, bajulado por ser um dos executivos mais poderosos da Rede Globo, ocupando atualmente o previlegiado cargo de diretor-artístico da Globo Filmes. Para Daniel - segundo os próprios artistas, técnicos e funcionários da TV Globo, dos porteiros ao pessoal dos escritórios, tanto na sede da emissora na rua Lopes Quintas (Jardim Botânico, zona sul) como na Central Globo de Produção (Projac) - não existe (profissionalmente falando) ex-mulheres, filhos e muito menos "apadrinhados", se os mesmo não preencherem o principal requisito exigido por ele: talento.
     O extenso currículo do "mago das oito" é invejável e começa na década de 60 quando, ao lado de Jece Valadão, estourou as bilheterias dos cinemas com Os Cafagestes (1962) e Boca de Ouro (1963). Seus trabalhos mais recentes na telona foram A Partilha e Se Eu Fosse Você 1 e 2, sem falar no trabalho como ator em "Querido Estranho", de Ricardo Silva e Pinto. A televisão, por sua vez, hoje não teria o status de ser uma das melhores do mundo se não fosse a preciosa assinatura dele na direção de sucessos como A Rainha Louca, Sangue e Areia, Rosa Rebelde, A Cabana do Pai Tomás, Véu de Noiva, Irmãos Coragem, O Homem que Deve Morrer, Selva de Pedra, Pecado Capital, O Casarão, Duas Vidas, Espelho Mágico, Dancing Days, Brilhante e Suave Veneno, sem contar os seriados, minisséries e Casos Especiais.
     Desde anteontem ao ligar a tv às 23 hs. e ouvir, de terça a sexta, a música "Bijuterias" (João Bosco), sinta-se na obrigação de reverenciar um dos maiores diretores e atores do país. Ontem, hoje e sempre.
     Au-revoir para todos que me criticam ou aplaudem. Na próxima quinta-feira, se Deus quizer, aqui estarei. Eu aqui e vocês daí. C'est la vie!

                                                                                                                                                                     SANFERR, 14.07.2011

a ESFINGE:
     "Todo mundo perdoa tudo, menos o talento".

                                                    Oscar Wilde (1856-1900) escritor, poeta e dramaturgo irlandês.

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                                                        P    A     T     R     O     C     Í     N     I     O


3 comentários:

  1. SANFERR, como sempre, dando um show de informação e cultura. Parabéns!

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  2. Janete Clair foi uma grande novelista e merece esta homenagem da televisão brasileira. Daniel Filho, por sua vez, é um grande diretor e porisso está sendo homenageado pela coluna SANFERRPRESS. pARABÉNS. PP, da Nova DD.

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  3. SANFERRPRESS, Janete Clair e Daniel Filho. Duas personalidades do meio artístico e cultural brasileiro homenageados por um grande colunista com um texto primoroso, magistral, como sempre. TONINHO, SP.

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